sexta-feira, 4 de março de 2011

Marcelo Rubens Paiva

Saindo da universidade, acendí um cigarro na frente do guarda da portaria, e ele me olhou com uma cara de "carinha mais insolente, acendendo um cigarro na minha frente" enquanto que eu olhei pra ele com uma cara de "se tá achando ruim, me coloca pra fora!". Não sei porque diabos ele fez isso, já que a universidade é um local público, e aberto. Odeio quando esse tipo de gente que acha que, por usar coturno e uma farda de agência de segurança, se acha o dono do mundo...

Então, indo pelas ruas do centro, com meu cigarro aceso, à caminho da parada e desviando das cocotinhas que faziam cara feia pra minha fragrância de Dunhill Carlton, caminhava pensando nas primeiras 20 e poucas páginas do livro "Feliz Ano Velho". Carinha bem fodido na vida você, hein, Marcelo? Mas sabe fazer alguém refletir sobre a vida que tem.

Um percurso que eu faço diariamente (e talvez isso tenha servido de artifício para me "cegar" diante da beleza noturna urbana, pois eu nunca tinha prestado atenção na iluminação das árvores na praça da Av. Frei Serafim, nos casais de jovens namorados, nos amigos reunidos felizes por terem saído do trabalho) me pareceu uma São Silvestre devido ao tempo que me pareceu ter passado para eu chegar no ponto de ônibus. Uma eternidade para 3 quarteirões! Mas isso era porque eu vinha pensando na história triste daquele cara de apenas 20 anos do livro, que em um momento tava pagando de Tio Patinhas, e no outro estava plantado em uma maca de UTI. Isso mexe com o juízo de qualquer um, principalmente com o de um cara que foi parar em um hospital inconsciente duas vezes em dois meses sem sequer saber o que tinha acontecido na última meia-hora de sua vida.

Chegando no ponto, encosto-me em um corrimão sujo de chiclete, que um maldito filho da puta de estudante de Ens. Médio provavelmente colocou. Felizmente foi na minha mão que o maldito grudou, e não na calça. Olho pra baixo e vejo um gatinho metido à machão, marcando território nos sacos de lixo, e que só não marcou em mim por que quase levou um bico do Sr. Timberland. Tinha em mente passar na academia pra visitar o pessoal do judô, fazer a social com o sensei, rever os amigos... Mas para a minha salvação, perdí o ônibus. Depois pensei que não seria boa ideia ter ido, pois eu estaria ferrado com o professor por causa do cheiro de cigarro. No mais, tudo normal, como numa noite normal: pego outro ônibus, duas gatinhas nele, uma delas me fitando; um louco, ou bêbado, ou louco-bêbado-gritante-irritante também sobe, mas para minha felicidade e a dele ele decide ficar na frente.
Tudo aconteceu normal, como todo dia acontece... Mas a minha cabeça já não era mais a mesma: eu vinha ligado, prestando atenção à tudo, tanto para detalhes interessantes como a loira de roupa azul, rabo de cavalo e cordãozinho de prata que tentava me olhar mas não conseguía porque eu estava atrás dela, como para coisas consideradas insignificantes como o farol de um Gol G4 desregulado refletindo no asfalto, e à uma carreta no prego em plena BR-316.

Enfim, chegou a minha parada, como sempre. Não matei o louco-bêbado-gritante-irritante, e nem catei a loirinha. Mas descí diferente, mais disposto a dar valor aos pequenos detalhes de minha vida, mais disposto a dar valor à minha vida. Não quero morrer com aquela vontade de achar que podia ter vivido mais, e melhor: isso eu sempre fiz, e agora é que vou dar mais valor à isso.

Cheguei mais uma vez vivo em casa, e resolví despejar essa minha experiência aqui pra vocês, e inclusive uma frase bem interessante que me passou pela cabeça: a vida de qualquer um pode se tornar um livro, por mais que a pessoa ache a sua um porre; o segredo é saber extrair isso de sí.

3 comentários:

  1. Olá Diogo, não posso dizer que gostei do seu vômito, vai sem aspas mesmo; prefiro os meus, os quais faço questão de por aspas, assim: "vômito". Mas cara, como tudo na vida vicia, estou criando coragem para voltar ao seu vômito.
    Que acha de me visitar? vai ver que escrevo melhor que você.
    www.lerpodeserumprazer.blogspot.com

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  2. Esclarecimentos.
    Olá Diego: que bom que visitaste meu blog; preciso esclarecer que escrevo crônicas, não faço depoimentos; crônicas podem ser baseadas em fatos reais, não necessariamente vividos pelo autor.Finalmente, em português claro, meu comentário em seu blog é 100% elogios; peço desculpas se não fui entendido. Tenho realmete interesse em voltar a ler seus depoimentos( sejam eles escritos em estado sobrio ou ébrio). Uma sugestão: a espressão "críticas ferrenhas" poderia ser mudada para "elogios".

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  3. Diego, tu precisa ler o restante do livro, fodaaaastico! eu começei a dá o devido valor às coisas que antes julgava ser tão insignificante!
    bjs! =)

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